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A mostra Poison Eye parte de um repertório visual que marcou a infância de Júlia Dalcastagné: cartoons, animes super-heróis, gibis e desenhos animados. Não se trata de apropriação ou aceno nostálgico, mas da incorporação crítica de um vocabulário imagético que, ao ser reconfigurado pela artista, revela uma atração consciente pela justaposição entre o sombrio e o colorido, o caricatural e o psíquico, o lúdico e o inquietante. É a partir desse léxico, comum a uma geração e revisto sob outro grau de consciência, que Júlia estrutura suas imagens.
Poison Eye não pretende suavizar, nem organizar o campo interpretativo para o espectador. A mostra apresenta um conjunto de obras que tensiona diretamente o pacto de inocência visual. O que se propõe não é descrever a artista nem limitar sua linguagem em categorias. É sustentar o trabalho como campo autônomo, onde a imagem pensa, colide e impõe.
Exposição solo
Poison Eye: Fragmentos
de Um Universo Pessoal
UP Time Art Gallery
27/07/25 - 27/09/25

VISITE!
O nome da exposição nomeia uma entidade fictícia criada por Júlia: um olho que intoxica. Um olhar que, em vez de registrar, compromete. O Poison Eye enxerga para além do decoroso e devolve imagens atravessadas por lucidez. Não há ingenuidade em suas figuras. Há rigor formal e deslocamento contínuo, não apenas de temas, mas de expectativas. A composição é clara, mas o que se revela nunca é inocente. Apesar do olhar venenoso, os personagens são lúdicos e impactam pela construção visualmente bem resolvida.
Se há infância, ela é ambígua. Se há ternura, ela é desconfiada. As obras desconstroem o pensamento. Cada fragmento se estrutura como uma fresta, onde o gesto pictórico opera entre denúncia e invenção. Não há discurso panfletário. Há escolha de linguagem. E é exatamente por isso que o desconforto que emana da pintura não é um subproduto, mas parte da arquitetura do trabalho.
A mostra não busca oferecer mediação interpretativa. O que propõe é a suspensão do automatismo perceptivo. Propõe um confronto com a imagem enquanto campo ético e estético. A curadoria não interpreta, não traduz, não organiza sentidos. Ela sustenta o espaço e remove os excessos, para que a linguagem da artista atue com a força que tem.
Marisa Melo
Curadora















